Preciso aprender a me calar. Não que eu seja dada a falar  demasiadamente. Gosto até de ficar quieta, embora nem sempre consiga. Na  verdade, preciso aprender a calar minhas vozes internas. Minhas viagens  entre tempos e espaços que não combinam. Preciso calar as vozes que me  levam a considerar o imponderável, ponderável. Pensamentos secretos.  Pergunto-me se toda a gente tem esse tipo de perturbação. Não segredos,  que todos os têm, claro, mas pensamentos secretos, coisas que as pessoas  não imaginam que possam habitar a placidez de sua pessoa. Sinto-me  presente passado e futuro coexistindo. Logo eu, que só queria ficar  quietinha no meu canto, desfrutando a calmaria dos dias e das  cotidianices banais. Tenho sonhos, esses que a gente sonha quando dorme,  mas são tão mais do que sonhos... Quando abro os olhos pela manhã,  sinto-me exausta, como se não tivesse parado de viver histórias nem por  um segundo sequer. Em todo esse enredo inquietante existe um ser. Alguém  que altera formas, nem sempre se mostra, e vive na espreita. Sinto amor  vindo da parte dele. Sinto ódio vindo também. Sinto saudades, sinto  angústia. Tem sonhos onde nos encontramos e somos felizes. Como aqui, na  vida real, em certos momentos em que a ternura nos encobre, nos esconde  das sombras. Mas há sonhos onde a sombra é dona do lápis. E escreve,  escreve, escreve, cria trechos intransponíveis, pontes que se partem  para sempre, caminhos bloqueados por pedras seculares, barulhos,  silêncios. Como aqui, na vida real, quando somos afastados pelas nossas  próprias forças fracas. Contraditório, não? Forças que não fazem  acontecer, forças que afastam, são fracas na intenção. No bem. Na fé. E  nada cala. Todos os fantasmas clamam atenção nessa noite. Nas noites  todas. Inflamados dias e noites, e pensamentos que não calam. Penso em  pisar de mansinho. Tento tirar os sapatos e passar despercebida, como  uma adolescente que foge pela janela do quarto frente às proibições de  pais severos. Sempre tive essa fantasia não realizada. Fugir para  encontrar. Coragem de amassar bem os lençóis, fazer a modelagem do corpo  com almofadas para disfarçar a presença, abrir a janela em silêncio,  pular sorrateiramente a janela, o muro, a cerca, e sorrir da própria  capacidade de ver a coragem de querer, poder e realizar sem medo das  punições ou dos possíveis enganos. E ver ao longe, à espera, aquele  alguém que espera exatamente isso de você, o RISCO. Talvez, todos os  fantasmas que me visitam e todos os desencontros que me sondam tenham  por objetivo exatamente isso: fazer-me ver, conhecer e me entregar ao  risco. Vá saber. Conjecturas de uma mente que não pára. Conjecturas de  uma mente que deseja um sonho bom. Pelo menos por essa noite. Boa Noite!

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