sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Conjecturas noturnas

Preciso aprender a me calar. Não que eu seja dada a falar demasiadamente. Gosto até de ficar quieta, embora nem sempre consiga. Na verdade, preciso aprender a calar minhas vozes internas. Minhas viagens entre tempos e espaços que não combinam. Preciso calar as vozes que me levam a considerar o imponderável, ponderável. Pensamentos secretos. Pergunto-me se toda a gente tem esse tipo de perturbação. Não segredos, que todos os têm, claro, mas pensamentos secretos, coisas que as pessoas não imaginam que possam habitar a placidez de sua pessoa. Sinto-me presente passado e futuro coexistindo. Logo eu, que só queria ficar quietinha no meu canto, desfrutando a calmaria dos dias e das cotidianices banais. Tenho sonhos, esses que a gente sonha quando dorme, mas são tão mais do que sonhos... Quando abro os olhos pela manhã, sinto-me exausta, como se não tivesse parado de viver histórias nem por um segundo sequer. Em todo esse enredo inquietante existe um ser. Alguém que altera formas, nem sempre se mostra, e vive na espreita. Sinto amor vindo da parte dele. Sinto ódio vindo também. Sinto saudades, sinto angústia. Tem sonhos onde nos encontramos e somos felizes. Como aqui, na vida real, em certos momentos em que a ternura nos encobre, nos esconde das sombras. Mas há sonhos onde a sombra é dona do lápis. E escreve, escreve, escreve, cria trechos intransponíveis, pontes que se partem para sempre, caminhos bloqueados por pedras seculares, barulhos, silêncios. Como aqui, na vida real, quando somos afastados pelas nossas próprias forças fracas. Contraditório, não? Forças que não fazem acontecer, forças que afastam, são fracas na intenção. No bem. Na fé. E nada cala. Todos os fantasmas clamam atenção nessa noite. Nas noites todas. Inflamados dias e noites, e pensamentos que não calam. Penso em pisar de mansinho. Tento tirar os sapatos e passar despercebida, como uma adolescente que foge pela janela do quarto frente às proibições de pais severos. Sempre tive essa fantasia não realizada. Fugir para encontrar. Coragem de amassar bem os lençóis, fazer a modelagem do corpo com almofadas para disfarçar a presença, abrir a janela em silêncio, pular sorrateiramente a janela, o muro, a cerca, e sorrir da própria capacidade de ver a coragem de querer, poder e realizar sem medo das punições ou dos possíveis enganos. E ver ao longe, à espera, aquele alguém que espera exatamente isso de você, o RISCO. Talvez, todos os fantasmas que me visitam e todos os desencontros que me sondam tenham por objetivo exatamente isso: fazer-me ver, conhecer e me entregar ao risco. Vá saber. Conjecturas de uma mente que não pára. Conjecturas de uma mente que deseja um sonho bom. Pelo menos por essa noite. Boa Noite!

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