domingo, 7 de novembro de 2010

Dona Maricota, isso é COVARDIA!



Por anos e anos a fio sonhei que estava caindo. Queda livre de um lugar indefinido, um vôo que não era vôo e que não tinha fim. Depois, por outros anos, sonhei com tsunamis. Enormes ondas que vinham do nada, enquanto olhávamos abismados, eu e quem mais estivesse comigo no sonho, aquela coisa gigantesca vindo em nossa direção. Assim como a queda, a onda vinha mas não chegava nunca. Agonia sem fim. O que será que Freud diria desses sonhos recorrentes? Nos últimos tempos não lembro dos meus sonhos. Sei que sonho porquê dizem que todo mundo quando dorme sonha, mas quase nunca lembro. Um mergulho em zonas desconhecidas que não me deixam lembrança. Sensação de estar caindo, medo do que virá, e o vazio. Em certos momentos acho viver muito parecido com sonhar sonhos estranhos, uma coisa difícil, contrário de tudo que meu lado cor de rosa crê. Não sei me relacionar com as pessoas direito, pessoas são minha queda, meu medo, meu vazio. Não fui talhada para as convivências. Ou fui, e não entendi nada. Não que eu não goste de gente, oque ocorre é que eu não entendo nada de gente. Quanto mais o tempo passa, maior em mim é essa convicção. Tenho evitado as pessoas. Conviver me magoa. Estar perto da imprevisibilidade das reações humanas me faz lembrar do sonho em que caio, em que temo, em que saio vazia e perdida no meio de coisa nenhuma. Parece amargo? De fato, é um pouco amargo. Olhar-se de frente nem sempre é uma surpresa de fazer alvorecer o coração. Tem vez que vira breu. Sei que de um lado existem as sete ou oito maravilhas do existir, mas não consigo ignorar o outro, a escuridão do existir. E no meio disso uma fina estrada de pedras por onde ando, equilibrando-me em passos incertos, em olhos cansados que precisam ficar abertos mas teimam no conforto de fechados ficarem. Gosto de ficar de longe, só olhando ou imaginando ou tocando o nada. Não que eu prefira, viver de verdade e de perto às pessoas é o vinho mais saboroso degustado em goles gulosos e garrafas largadas pelo caminho em meio a risos, festa, e algo mais que não compreendo. Sou fraca pra bebidas. Sou fraca pra gente. Sou fraca pra viver. Por isso, fico de longe.

O caminho é de flores,
é de borboletas, passarinhos,
bem te vis, girassóis,

e nesse caminho eu fico de perto.


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