domingo, 14 de novembro de 2010

Paixão / Maiô





Eu comprei um maiô. Palavra estranha de sotaque diferente. Maiô. Tem que fazer biquinho pra pronunciar direito. _ Moça, quero comprar um m a i ô, por favor! Comprei um maiô branco para as tardes de verão. Prentendo que meus fins de tarde, quando o sol vai namorar do outro lado e as primeiras estrelas parecem fazer cricri, sejam elegantes. Quer dizer, não sei se essa é a palavra. Desejo que sejam como em outros tempos. Tempos em que havia mais romance apesar da paixão.


[Pobres seres aqueles que se apaixonam. Adoecem de corpo e alma. Tudo e todo gesto é dirigido ao outro. Isso não deve ser muito elegante, sugere haver uma luz em neon piscando alegoricamente sobre a cabeça dos apaixonados alardeando a doença em uma denúncia de que naquele corpo habita uma alma sem amor. Próprio. Território dominado pela paixão. Poderá se questinonar, _ mas, oras, todos os seres se apaixonam. Há controvérsias. Nem todos são invadidos. Há que se ter personalidade determinada para a paixão tomar conta em sua grandeza. Em sua totalidade. Ensaios de paixão não são paixão. No portal das paixões estão os riscos, os mergulhos, as incertezas, as armadilhas, as incógnitas, as equações de uma matemática particular em que, só saber as quatro operações básicas não se faz suficiente. Paixão é saber que existe o fim, e querer ir até o fim mesmo assim. É obsessão.]



Descubro recentemente que não sou ser talhado às paixões. Não tenho estrutura, saúde, coragem, disposição, luminosidade, grandeza, criatividade para um mergulho dessas proporções. Estranhamente, comprar um maiô me fez pensar nisso. Finais de tardes tranquilos, a água morna do mar aos meus pés, o sol se pondo na promessa calma de outro dia, companhias calmas e apaziguadoras ao lado, e eu e meu maiô branco, caminhando no meio da calma, bem longe dos distúrbios da paixão.




C'est La Vie





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